Seja bem vindo.

A voz do Basilisco não é tão feia quanto parece.

domingo, 18 de dezembro de 2011

Alienados ajudam a manter a democracia

Estudo revela que os alienados ajudam a manter a democracia

 

Cientistas dos Estados Unidos descobriram que certos peixes de água doce são excelentes ratos de laboratório para pesquisar o poder surpreendente dos "desinformados" na tomada de decisões grupais, o que parece demonstrar que os ignorantes favorecem a democracia.
Graças a estes peixes, conhecidos como carpas douradas (Notemigonus crysoleucas), cientistas da Universidade da Princeton, em Nova Jersey, concluíram que os indivíduos aos quais não importa muito o resultado de uma situação dada podem diluir a influência de uma minoria poderosa que, de outra forma, seria dominante.
As conclusões de estudo, intitulado "Os indivíduos sem formação promovem o consenso democrático em grupos animais", foram publicadas na edição desta sexta-feira da revista Science.
A observação dos peixes permitiu provar que as pessoas apolíticas, quando pressionadas a tomar uma decisão, evitarão à da minoria, sem importar se o seu ponto de vista é ou não inteligente. "Os peixes proporcionam um sistema em pequena escala muito conveniente, onde mostram dinâmicas coletivas realmente fantásticas", afirmou o principal cientista que participou do estudo, Iain Couzin, do departamento de Ecologia e Biologia Animal de Princeton.
"São muito fáceis de treinar e desenvolvem fortes preferências", explicou o professor de origem escocesa, acrescentando que estes peixes são, ainda, "um bom modelo biológico de consenso na tomada de decisões".
No laboratório de Princeton, um grupo de peixes foi treinado para associar a cor azul a um prêmio de comida. Outro grupo, menor, foi treinado para fazer o mesmo, mas com a cor amarela, que é o que as carpas douradas preferem a qualquer outra quando estão em seu hábitat natural.
Ao reunir os dois grupos, os cientistas descobriram que a minoria que era quem decidia para qual cor todo o cardume devia nadar para apanhar a recompensa. Segundo os cientistas isto ocorreu porque os "sentimentos" da minoria eram mais fortes do que os do restante do grupo. Se as preferências dos dois subgrupos tivessem a mesma carga emotiva, a decisão teria sido tomada pela maioria, explicaram.
Mas as coisas, então, mudaram quando alguns peixes não treinados, representando o que Couzin e sua equipe chamariam de grupo de "desinformados" do reino dos peixes, sem qualquer preferência por uma cor ou outra, foram inseridos no grupo. "À medida que adicionamos 'indivíduos desinformados' no processo, voltamos a dar o controle do grupo à maioria", disse Couzin durante entrevista coletiva.
"As pessoas desinformadas espontaneamente apoiam a opinião da maioria e reduzem, efetivamente, as diferenças de intransigência entre os dois subgrupos".
Ao introduzir o resultado em modelos matemáticos e simulações por computador, os cientistas encontraram um paralelismo no comportamento humano, que mudou pressupostos comuns sobre o poder das minorias que se pronunciam abertamente. "Normalmente, supomos que um grupo muito obstinado e enérgico vai influenciar todo mundo", disse Donald Saari, da Universidade da Califórnia, citado em um comunicado de Princeton.
"O que temos aqui é muito diferente", acrescentou. Em um contexto político, isto poderia explicar o porquê de um candidato linha-dura ou um partido extremista poderiam se sair bem nas primárias, fracassando quando os eleitores "desinformados" votarem em massa nas eleições gerais.
"Os indivíduos desinformados efetivamente impulsionam uma saída democrática", disse Couzin, embora tenha dito que há limites, como ficou evidente no aquário. "Ao adicionar 'indivívuos desinformados', eventualmente reina o 'ruído' (confusão)", disse. Nesse momento, informação de nenhum tipo se compartilha com eficácia e todo o grupo começa a tomar decisões ao acaso.

Fonte:
http://www.notibras.com.br/2011/pt/noticias/ciencia/2055/Estudo-revela-que-os-alienados-ajudam-a-manter-a-democracia.htm


 

domingo, 2 de outubro de 2011

O terremoto de 1755 em Lisboa

Feriado do "Dia de Todos os Santos". 1 de novembro de 1755. Terremoto em Portugal. Lisboa em ruínas.  O povo foge para a zona portuária para se proteger dos escombros. Os homens enxergam o mar recuar expondo lixo e restos de cargas no assoalho marinho. Minutos depois o Mar retorna sob a forma de um tsunami que invade o continente ampliando a destruição ocorrida pelo abalo e pelos incêndios causados posteriormente. Cadáveres e mais cadáveres pelas ruas e sob a massa demolida.Lisboa era a capital de um país católico, com grande tradição na construção de conventos e igrejas e empenhado na expansão do Cristianismo pelas colônias. O fato do terremoto ocorrer em dia santo e destruir várias igrejas importantes suscitou muitas questões religiosas por toda a Europa. Para a mentalidade religiosa da época, foi uma manifestação da ira divina difícil de se explicar.
       Voltaire escreveu  por conta do ocorrido:

Ó,terra deplorável

Ó ajuntamento assustador de seres humanos! Eterna diversão de inúteis dores!
Filósofos alienados que proclamam:-tudo vai bem-. Venham contemplar essas ruínas horrendas
esses destroços, esses farrapos, essas cinzas malditas, essas mulheres e essas crianças
amontoadas sob mármores partidos, seus membros espalhados;
Cem mil desafortunados que a terra devora, que sangrando, dilacerados, e ainda palpitando
enterrados sob seus tetos, sucumbem sem socorro, no horror de tormentas findando seus dias!
Diante dos gritos de suas vozes moribundas, do horror de suas cinzas ainda crepitantes, vocês dirão;
-é a conseqüência de leis eternas que um Deus livre e bom resolveu aplicar?!-
Vocês dirão, vendo esse amontoado de vítimas: -Deus vingou-se,e a morte deles é o preço de seus crimes?!-
Que crime, que falta cometeram essas crianças esmagadas e sangrentas sobre o seio materno? Lisboa,
que não mais existe, teria mais vícios que Londres, que Paris, submersas em delícias?
Lisboa está destruída e dança-se em Paris.
espectadores tranqüilos, intrépidos espíritos, contemplando a desgraça desses moribundos,
 vocês procuram – em paz – as causas do desastre:
-Tudo vai bem – dizem vocês – e tudo é necessário-
Por acaso o universo, sem esse abismo, infernal, sem submergir Lisboa, estava sendo pior?

http://www.youtube.com/watch?v=a0mzztY6ndc&feature=related

domingo, 18 de setembro de 2011

PAULO FREIRE,A PARÁBOLA DOS VINHATEIROS E A EDUCAÇÃO DOS JOVENS.


   

Paulo Freire faria 90 anos neste 19 de setembro de 2011. O nobre recifense diferenciou-se das correntes de “esquerda”  defendendo o diálogo com as pessoas mais humildes e colocando sempre a ênfase do seu trabalho na prática concreta e não apenas no discurso. Paulo Freire desenvolveu um método inovador de alfabetização de forma que no nordeste,em 1963, ensinou 300 adultos (cortadores de cana) a ler e a escrever em 45 dias. Aproximou-se do Movimento “Teologia da Libertação” e através dos trabalhos de alfabetização , influenciou de certa maneira as Comunidades Eclesiais de Base. Foi professor, diretor de diversos departamentos em Universidades e outros instituições assim como secretário de Educação na Prefeitura de Luiza Erundina em 1988. Além de pensador renomado, Paulo Freire influenciou a chamada Pedagogia Crítica onde o educando seguiria e construiria seu próprio rumo no  aprendizado. Faleceu em maio de 1997 na capital paulista. Freire foi um grande líder que influenciou e influencia os abnegados “operários da educação” como se fosse o proprietário de uma grande vinha tal qual a relatada numa parábola do Novo Testamento.
       Na parábola dos vinhateiros no Livro de São Mateus, é narrado que um pai de família sai ao romper da manhã para contratar operários para a sua vinha. “Ajustou com eles um denário por dia e enviou-os para o trabalho. Cerca da terceira hora, saiu ainda e viu alguns que estavam na praça sem fazer nada. Disse-lhes ele: - Ide também vós para minha vinha e vos darei o justo salário. Eles foram. À sexta hora saiu de novo e igualmente pela nona hora, e fez o mesmo. Finalmente, pela undécima hora, encontrou ainda outros na praça e perguntou-lhes: - Por que estais todo o dia sem fazer nada? Eles responderam: - É porque ninguém nos contratou. Disse-lhes ele, então: - Ide vós também para minha vinha. Ao cair da tarde, o senhor da vinha disse a seu feitor: - Chama os operários e paga-lhes, começando pelos últimos até os primeiros. Vieram aqueles da undécima hora e receberam cada qual um denário. Chegando por sua vez os primeiros, julgavam que haviam de receber mais. Mas só receberam cada qual um denário. Ao receberem, murmuravam contra o pai de família, dizendo: - Os últimos só trabalharam uma hora... e deste-lhes tanto como a nós, que suportamos o peso do dia e do calor. O senhor, porém, observou a um deles: - Meu amigo, não te faço injustiça. Não contrataste comigo um denário? Toma o que é teu e vai-te. Eu quero dar a este último tanto quanto a ti. Toma o que é teu e vai-te. Eu quero dar a este último tanto quanto a ti. Ou não me é permitido fazer dos meus bens o que me apraz? Porventura vês com maus olhos que eu seja bom? Assim, pois, os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos. Muitos serão os chamados, mas poucos os escolhidos.”

       Na última semana , o Ministro Fernando Haddad explicou o baixo rendimento das escolas públicas e afirmou que os baixos índices da Escola Pública estão mais associados a fatores econômicos que `a qualidade das escolas públicas. É como se uvas de tamanho diminuto e insatisfatório assim o fossem por causa da qualidade do terreno e não por imperícia e incompetência do operário. Sendo assim, não seria verdade que o desenvolvimento econômico aliado às modificações demográficas positivas  seriam fatores muito mais decisivos no progresso educacional brasileiro do que simplesmente o investimento em educação não direcionado? O problema da Escola Pública seria, portanto, um problema mais de “clientela” que de formação docente? Deste modo, não seria papel fundamental do processo educativo melhorar essa clientela de forma que ela aprendesse os códigos da elite de modo que pudesse se libertar das amarras sociais alcançando um novo patamar na sociedade? Não seria então mais importante “ cuidar do solo, da oferta de nutrientes” para conseqüentemente “melhorar a vinha” e deixar os trabalhadores mais satisfeitos produzindo uvas melhores e recebendo melhor recompensa do fruto do seu trabalho?
       Sendo assim, qual é a escola que queremos? Uma escola voltada para o trabalho? Para a cidadania? Uma escola que aos dizeres de Freire seria “ bancária, tecnicista e alienante” ou uma escola “libertadora”?A figura do Professor poderia tomar o lugar do dono da vinha que sai e vai ao encontro dos trabalhadores, que no ambiente escolar, seriam os alunos.O fruto da vinha é o aprendizado.
        O dono da vinha oferece a todos a oportunidade de trabalhar em sua lavoura.No final, a todos é dado o mesmo pagamento, afinal de contas, os trabalhadores da hora primeira deveriam se sentir orgulhosos por terem a oportunidade de estarem trabalhando na vinha desde o início e por serem grandes contribuintes na tarefa de produzir bons frutos. É como na parábola do Filho Pródigo : o filho que permaneceu com o pai não entendeu que a maior recompensa que ele pode ter tido é o fato de ter permanecido ao lado do seu pai  participando do seu trabalho. Deste modo, devemos considerar que não basta a atenção aos primeiros. É necessário preocupar-se com os últimos. Há espaço para todos; e isso não é um mero doutrinamento “socialista” mas tão somente uma estratégia de sobrevivência pacífica e harmoniosa em sociedade antes que a massa rebelada se volte contra a elite perplexa.
Tais exemplos e  ensinamentos são importantes para os dias de hoje nos quais discutimos qual é o currículo que queremos e qual a escola que buscamos. Será que todos os alunos e professores estão preparados para a conclusão de que a dádiva maior é ser ativo integrante do processo educativo?Será que nós, como professores cientes de nossas obrigações, temos consciência do perfil do aluno que temos  e de qual é o nosso papel no processo educativo de cada um deles com as suas particularidades e diferenças? Será que não exageramos quando às vezes norteamos nosso trabalho nos vestibulares e ENEMs da vida com a falsa concepção de que o mais importante é  que todos poderiam ser engenheiros ou médicos? O que realmente deveríamos fazer para oferecer uma vida melhor aos jovens?
       Noventa anos depois de ter surgido, Paulo Freire se mostra tão atual quanto na década de 60 com o seu exemplo de administrador  da vinha, que nos convida a todos a pensar sobre nossas práticas e a sermos prestativos e compreensivos com aqueles que vêm depois de nós.
JT


sábado, 10 de setembro de 2011

Roque Santeiro e o Berço do Herói


Na quarta feira, 07 de setembro, fiquei deitado assistindo programas gravados no canal a cabo VIVA que é um canal de TV por assinatura brasileiro, que faz parte do grupo Globosat. Passava um capítulo da novela Roque Santeiro  que foi apresentada pela Rede globo em TV aberta em 1985,baseada em um trabalho original de Dias Gomes, a peça de teatro O Berço do Herói.
Na peça, um cabo do exército brasileiro na Campanha da Itália em plena Segunda Guerra Mundial sai correndo em direção ao exército inimigo e é tido como morto findada a batalha. Como seu corpo nunca fora encontrado, é tido como herói de guerra, à partir disso tudo , em sua cidade natal começa a tomar forma um grande sistema de comércio turístico explorando a história do herói morto, passando a cidade inclusive a se chamar “Cabo Jorge”. Quase todos os órgãos, clubes e entidades da cidade passam a se chamar “Cabo Jorge”. Eis que 20 anos depois, o fujão aparece na cidade e se encontra com o prefeito, que é seu amigo de infância. O herói conta que “sofrera um ataque de pavor, saindo correndo aos gritos com o fuzil em mãos e sem olhar pra nada; havia muita fumaça e névoa, passou por cadáveres de alguns alemães, só então percebendo que havia corrido em direção às linhas inimigas, ouvindo cada vez mais distantes seus companheiros gritando atrás de si, passou por escombros, mais adiante continuando a correr sem saber por que ou conseguir parar viu-se dentro de uma floresta onde se perdeu. Fazia frio, final de outono europeu, quase inverno, tempo encoberto. Após passar por maus bocados durante o dia e vagar um tempo que ele não sabe especificar, durante o qual os sons de batalha foram ficando cada vez mais distantes, ele avistou uma casinha, viu luz, aproximou-se cautelosamente, observou sorrateiramente pela janela uma bela mulher, que estava sozinha. Ele resolveu bater, ela atendeu e o deixou entrar para se aquecer, lá passou a noite, um dia, dois, foi ficando, foram se entendendo, o tempo passou, a guerra acabou e ele decidiu continuar vivendo ali com ela. Conforme o tempo passava, algumas pessoas iam chegando enquanto outras iam voltando às casas que tinham abandonado durante a guerra; com ninguém se lembrando ou mesmo se importando em como ele havia chegado ali, se tornara assim parte do lugar e aceito por todos.”[1]       Na peça, o prefeito e outras pessoas que lucravam com a história, decidem se livrar do visitante inoportuno e o acabam envenenando.
       A novela Roque Santeiro teve a peça como base, sendo o Cabo Jorge substituído por um coroinha com extrema habilidade em confeccionar estátuas de santos e que acabaria morrendo ao enfrentar as tropas de um criminoso, o bandido Navalhada. Dessa forma, Luiz Roque Duarte, conhecido como Roque Santeiro passa a figurar como santo até que retorna à cidade 17 anos depois. O enredo da novela gira em torno da presença do ilustre forasteiro que muita ente não conhece.
       Na última cena que assisti, Sinhozinho Malta entra preocupado no quarto de Viúva Porcina , que está de camisola, sem muita parte do corpo à mostra e falando dormindo pedindo para alguém se retirar. Sinhozinho a acorda e pergunta com quem ela tava falando, desconfiado de que estivesse sonhando com Roque (que está hospedado na casa de Porcina). Sinhozinho, sobressaltado, então tranca a porta do quarto e diz que vai mandar colocar um monte de trancas. Vai até o quarto de Roque que está deitado sem camisa , com um livro sobe o corpo com  título “O intrépido Garanhão”. Sinhozinho tira a chave do lado de dentro da porta, coloca do lado externo , sai do quarto, fecha a porta e a tranca pelo lado de fora. Sinhozinho então coloca o Chapéu e suspira aliviado.
       A peça[2] é uma crítica à forma como nossos heróis são criados, e escrita na década de 60, em pleno regime militar, seria censurada na década de 70 , mesmo sendo modificada em conteúdo e no título para “Roque Santeiro”, podendo ser exibida somente em 1985 no Governo Civil de José Sarney depois do fim da Ditadura Militar.
       Não se fazem mais novelas como antigamente.
       J.T. Basilisco.

[1] http://pt.wikipedia.org/wiki/O_Ber%C3%A7o_do_Her%C3%B3i
[2] Em PDF , eis a peça: http://pt.scribd.com/doc/17872583/Dias-Gomes-Roque-Santeiro-ou-O-Berco-do-Heroi-pdfrev

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Secretaria de Educação Prepara a "Gestão Democrática".

   


Quando muda o quadro político do Distrito Federal, prédios públicos são repintados de azul, de verde ou de vermelho dependendo da legenda dominante, mesmo que essa pintura seja desnecessária. O que importa é a carga ideológica que a ação pode determinar. Ramais telefônicos têm seus números trocados, símbolos, logomarcas e timbres são alterados e muitas vezes as placas de veículos oficiais têm siglas escolhidas de acordo com o sentido personalista. Agora, querem e seguem fazendo a mesma coisa com a Educação, como se doutrinar e ensinar fossem a mesma coisa.
É complicado. Há muita gente confundindo democracia com democratismo. Não existe plano de governo para a área da educação. As constantes mudanças de comando atestam bem isso.As trapalhadas do início do mandato também mostram que eles não estavam sincronizados e que não tinham idéia do que poderia ou não ser feito. Ao contrário da maioria, eu não gostaria que a Secretária Regina e os adjuntos saíssem. Eu gostaria que eles acertassem os passos; que apresentassem projetos e que as discussões fossem feitas em cima desses projetos apresentados; que determinassem qual é a projeção de quantitativo de discentes para 2012 e qual o verdadeiro contigente de professores em regência como efetivos e como CT. Eu gostaria que eles fizessem o papel de locomotiva e não o papel de vagão.
A educação, independentemente de qual partido esteja no poder, tem sido um instrumento político-partidário e não político-social em benefício do Estado. Enquanto for assim, não há salvação.
Nos fóruns e nas escolas, o que mais vemos é professores com orientação política pré-determinada criticando o modelo anterior de GC e elogiando o modelo de GD que ainda nem saiu do papel. O que é isso senão mero proselitismo político?
São 6 meses de Governo. Já deu tempo de ter discutido o PL da GC e tê-lo colocado em votação. Mesmo com a maioria da CLDF dentro do Governo, isso não foi feito. A GC tem problemas? Sim, os tem. E por que o GDF via SEE não trabalhou em cima da Lei que instaurou a GC para corrigi-la e transformá-la em GD?
A SEEDF se comporta como se fosse aquele tipo de sujeito que se casa com uma bela mulher desquitada e que fica o tempo todo exaltando suas características fazendo referências ao ex-marido da mulher. O ex-marido já era!
É hora de mostrar que há algo a ser feito e parar com esse discute-discute, debate-debate , chora-chora e lenga-lenga.
Repito: a GC mudará para GD mas as práticas continuarão sendo as mesmas. Não se iludam.

Reportagem do Correio: http://jornaldebrasilia.com.br/edicaodigital/pages/20110713-jornal/pdf/19.pdf





quarta-feira, 1 de junho de 2011

João Ubaldo fala sobre o assunto do livro "aprovado" pelo MEC

 

Encontrei no Estadão um ótimo artigo do João Ubaldo sobre o tema. Coloquei em outras postagens outros textos que abordam a questão. Vale a pena conferir.Abraços.JT

Observações de um usuário

João Ubaldo Ribeiro - O Estado de S.Paulo
A língua inglesa nunca teve academias para formular gramáticas oficiais e certamente seria afogado no Tâmisa ou no Hudson o primeiro que se atrevesse a tentar impor normas de linguagem estabelecidas pelo governo. Sua ortografia, que rejeita acentos e outros sinais diacríticos, é um caos tão medonho que Bernard Shaw deixou um legado para quem a simplificasse e lhe emprestasse alguma lógica apreensível racionalmente, legado esse que nunca foi reclamado por ninguém e certamente nunca será, apesar de algumas tentativas patéticas aqui e ali. Ingleses e americanos dispõem de excelentes manuais do uso da língua, baseados na escrita dos bons escritores e jornalistas - e, quando um americano quer esclarecer alguma dúvida gramatical ou de estilo, usa os manuais de redação de seus melhores jornais.
A segregação racial nos Estados Unidos produziu um abismo linguístico entre a língua falada pelos negros e a usada pelos brancos. Durante muito tempo, a língua dos negros foi vista como uma forma corrompida ou degenerada da norma culta do inglês americano. Mas já faz tempo que essa visão subjetiva e etnocêntrica foi substituída e o inglês falado pelos negros passou a ser visto pela ciência linguística como "black English", uma língua perfeitamente estruturada, com morfologia e sintaxes próprias, com sua gramática e sua funcionalidade autônoma, não mais como inglês de quinta categoria. E essa visão não foi acatada "de favor" ou para fazer demagogia com a coletividade negra, mas porque se tornou inescapável a existência de uma língua falada por ela, eficaz na comunicação de informação e emoção e que prescindia, sem que isso fizesse falta, de determinados recursos do inglês dominante.
Todos nós, com maior ou menor habilidade, falamos várias línguas, ou dialetos, dentro da, digamos, língua-mãe. Falamos língua de criança, língua chula, língua de solenidade. Podemos não chegar a falar todas as muitas línguas à disposição, mas geralmente as entendemos, como, por exemplo, quando ouvimos um caipira. Essas línguas, em padrões de variedade quase infinita, são todas legítimas, não são "erradas", pois, em rigor, nenhuma língua que funcione realmente como tal é "errada". E, muitas vezes, ao falarmos "certo", estamos na realidade falando inadequadamente, como um orador que, num comício no Mercado de Itaparica, se esbaldasse em proparoxítonas, polissílabos e mesóclises. Eu mesmo falo itapariquês de Mercado razoavelmente bem e alguns entre vocês, se me ouvissem lá, talvez tivessem dificuldade em entender algo que eu dissesse, por exemplo, a meu amigo Xepa.
Cientificamente, a neutralidade quanto a línguas, dialetos ou usos subsiste. Mas não socialmente, e é isso o que me parece ainda estar sendo discutido em torno da propalada aceitação, pelo MEC, de erros de português. "Erro de português" é uma expressão que desagrada ao linguista, porque ele não vê o fenômeno sob essa ótica. No entanto, é assim que o enxerga o público, mesmo o analfabeto, que aprende pelo ouvido a distinguir o certo do errado. Isto porque sempre se entendeu no Brasil que ensinar português é ensinar a norma culta, que, durante muito tempo, foi até mesmo ditada pelos usos de Portugal.
Quer se queira quer não - e há séculos de formação por trás disso -, a norma culta é tida como a correta e a única que representa verdadeiramente nossa língua. Sua violação é tolerada em manifestações literárias e artísticas de modo geral - e, assim mesmo, funciona mais quando o intuito é obter efeitos cômicos, ou "folclóricos", com essa violação. As pessoas costumam observar a adesão à norma culta no que ouvem e leem. Falar e escrever de acordo com ela é socialmente muito valorizado e resulta num poder de que a maioria não se sente boa detentora e ao qual todos aspiram. Não é questão linguística, é questão política. Não se trata de dizer aos que desconhecem a norma culta que a fala deles tem a mesma legitimidade, porque não adianta, não "cola" na sociedade. Trata-se de ensinar a esse praticante o pleno domínio da norma culta, a qual, mesmo tendo que absorver mudanças, nunca abdicará de sua hegemonia e é a de que ele vai precisar para subir na vida.
Advertir contra o preconceito sofrido por quem "fala errado" também não adianta nada, diante da força onipresente da norma culta. (Aliás, no Brasil estamos sempre à frente e agora legislamos sobre preconceitos e tornamos ilegal ter preconceitos, quando isto é praticamente impossível, pois o possível é apenas tornar ilegal a manifestação do preconceito.) A fala é dos mais importantes recursos para o que se poderia chamar de reconhecimento social da pessoa. Vendo alguém pela primeira vez, fazemos, conscientemente ou não, um julgamento automático. Aprontamos uma ficha mental, avaliamos a roupa, a idade, o estado dos dentes e, inevitavelmente, a fala, através da qual é frequentemente possível saber a origem e a extração social de um interlocutor eventual. A norma culta, a dominante, a que é ensinada como correta, mostra sua cara imediatamente e se reflete logo na maneira pela qual o sujeito é percebido e tratado. Ferreira Gullar tem razão, a crase não foi feita para humilhar ninguém. Mas humilha o tempo todo. E agora, pensando aqui nessa tirania da norma culta, fico imaginando se ela não é empregada com esse fim, por certos fiscais dogmáticos. Não devia ser, porque, afinal, ela é necessária para preservar e aprimorar a precisão da linguagem científica e filosófica, para refinar a linguagem emocional e descritiva, para conservar a índole da língua, sua identidade e, consequentemente, sua originalidade. Ao contrário do que entendi de certas opiniões que li sobre o assunto, a norma culta não tem nada de elitista, é ou devia ser patrimônio e orgulho comuns a todos. Elitismo é deixá-la ao alcance de poucos, como tem sido nossa política.




http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,observacoes-de-um-usuario,725321,0.htm


segunda-feira, 30 de maio de 2011

Outro olhar sobre o Livro de Português aprovado pelo MEC

      

O probrema do livro isculido ou aprovado pelu MEC é um dos tema mais comentado nas ultima semana. Dis os espesialista que o qui importa é sê intendido. Tem gente qui diz que falar errado nao é uma preda no caminho nem istrumento di tropesso. Tem pessoa que fala que o lenga-lenga e a pirrassa com o "erro" do livro uzado nu EJA é coiza de tucano para sacanear u Adadi que era ministro du Lula e que tá com a Dilma.O tal do Marcos Bagno fala em preconseito lingüístico.Num sei si eu seria contratadu numa intrevista di imprego se eu escrevinhasse desse geito. Pode ser o preconseito qui falei ou apenas dispreparo di minha parte..A gente vamo discuti, discuti...e num vamo chegar au entendimento.Pelo meno a gente si depara com alguns escritor ou alguns gramático que inventa di falá sob o asunto para mostrar o tanto que o domínio da lingua é importanti..
       O texto a siguir me parece-me rasoáveu.
       Boa leitura.


ANALFABETISMO FUNCIONAL
José Miguel Wisnik *

Não resisto a voltar à discussão sobre o livro de Heloísa Ramos, "Para uma vida melhor", oficializado pela chancela do MEC. Falei dele e da polêmica que ele despertou, na semana passada, mas os efeitos sintomáticos que o livro desencadeou ainda ficam ressoando demais. Talvez porque eu tenha sabido da notícia, revoltante em sua miudeza obscurantista, de que o deputado Átila Nunes, do PSL do Rio, apresentou projeto de lei para que se proíba a distribuição do livro nas escolas do estado. Suponho que esse Átila não vai conseguir esterilizar os caminhos por onde passa, como o rei dos hunos que lhe dá nome, mas a sua proposta é cheia de sinais reveladores. O artigo de José Sarney na "Folha de S. Paulo", invocando Fernando Pessoa em nome da unidade linguística da pátria, também não me fez bem.

O que dá às reações o seu caráter de sintoma de alguma outra coisa é a desproporção entre o que se lê em "Para uma vida melhor", dentro do seu contexto próprio, e as afirmações de que ele convida perigosamente ao abandono da concordância gramatical em nome de uma permissiva e perversa norma inculta a ser adotada generalizadamente. Como eu já disse aqui, o capítulo expõe com elegância procedimentos para se escrever com limpidez, justificando-os pela necessidade de fazê-lo em certos contextos. Extrai esses princípios de coesão, clareza e propriedade das necessidades do próprio texto que se escreve, balizados pela norma culta, sem tomá-la como a verdade universal que ela não é. Faz isso tão bem que acaba demonstrando na prática, em bom português, que a escrita segundo padrões decantados pela tradição, em seu estado atual e vivo, não deveria ter vergonha de se apresentar aos estudantes e professores como um instrumento modelar a ser adotado como tal. Afinal, há de ser por algum motivo forte, maior do que aqueles que ele mesmo apresenta, que o livro pratica o padrão linguístico que ele relativiza.

Este é o meu reparo filosófico e pedagógico, a meu ver de grandes consequências, a ser considerado pela autora e pelo MEC: aceitar-se a multiplicidade das falas como um substrato cultural democrático, sem preconceitos, sim, mas afirmar também a ampla validade, não meramente circunstancial, dos padrões decantados pela língua escrita como um repertório a ser atingido, praticado e renovado, pelo seu longo alcance.

Tudo isso que acabo de dizer faz parte de uma conversa esclarecida, sobre um trabalho pedagógico honesto, que teve o mérito, mesmo que não buscado, de tocar numa questão tabu. Já a extensão das reações escandalizadas adquire a dimensão do sintoma, a merecer uma psicanálise coletiva. Por que será que é tão insuportável que se admita com naturalidade as variantes linguísticas dos falares, e por que se teme com tanta ênfase que a menção desse fato nas escolas vá nos arrastar irremediavelmente para o pântano do caos linguístico?

Porque esse pântano patina sob os próprios pés de quem fala. Nesse sentido, o projeto de lei do deputado do PSL é um índice hilariante. O projeto pretende proibir "qualquer livro, didático, paradidático ou literário com conteúdo contrário à norma culta ou que viole de alguma forma o ensino correto da gramática de nosso idioma nacional". Querer que a literatura obedeça aos gramáticos oficiais, sob pena de retirada do mercado, só pode ser o delírio de quem tropeça na língua portuguesa a cada frase. É o que acontece no projeto de lei do deputado, que estende a sua justificativa a outros tipos de livro que "acabam fazendo apologia a questões criminais ou despertam precocemente o libido dos jovens, incentivando conceitos distorcidos da verdade social".

"Apologia a questões criminais"? O deputado não é forte em regência nem no apuro semântico dos termos. "O libido dos jovens"? Será que é isso mesmo que estou lendo? Se for, então esse Átila é um perigoso devastador da língua portuguesa.

O exemplo folclórico tem valor de sintoma, na sua caricatura. José Sarney, ao afirmar erradamente que se resolveu no Brasil "criminalizar quem fala corretamente", diz que "defender a língua é defender a pátria", acrescentando: "eis a origem da famosa frase de Fernando Pessoa: "A minha pátria é a língua portuguesa"". Mas Fernando Pessoa não está dizendo nessa frase do "Livro do desassossego", em tom sentencioso, que a língua está a serviço da defesa da pátria ("a língua portuguesa é a minha pátria"). Está invertendo esse raciocínio e dizendo que o seu compromisso de escritor é com a língua livre e criadora ("minha pátria é a língua portuguesa").

É o que se vê nos textos de Pessoa reunidos no livro "A língua portuguesa", onde começa dizendo abertamente que a palavra falada é democrática e segue os usos. "Se a maioria pronuncia mal uma palavra, temos que a pronunciar mal. Se a maioria usa de uma construção errada, da mesma construção teremos que usar." O maior poeta do século não está preconizando o erro, está constatando que a língua falada é um fenômeno de massa que segue suas próprias leis, independente de qualquer norma, e arrasta os falantes para os seus usos coletivos. Não muito diferente do livro distribuído pelo MEC. A palavra escrita, por outro lado, dizia Pessoa, impõe suas necessidades e tem as suas regras como lastro. O escritor está livre delas, porque faz com a língua o que quiser. O povo também está livre delas. O Estado, no entanto, através da escola, deve ensiná-las como algo que nos serve de baliza e adianto.

Não como uma prisão às regras. Para podermos estar mais livres delas.

* José Miguel Soares Wisnik é professor de Teoria Literária na USP.

FONTE: Jornal O Globo, de 28/05/2011

Bechara fala à Veja sobre Livro aprovado pelo MEC

Em entrevista a Veja, gramático Evanildo Bechara faz pesadas críticas aos que defendem o livro Por uma Vida Melhor

Postado pelo colega do Blog: http://vcartigosenoticias.blogspot.com/2011/05/em-entrevista-veja-gramatico-evanildo.html


Bechara  fala a Veja: Por uma Vida Melhor é um retrocesso Após ter publicado artigo semana passada, onde assumiu uma posição contrária ao  pregado pelo livro "Por uma Vida Melhor", a Veja trouxe em sua mais recente edição uma entrevista nas páginas amarelas com um dos gramáticos mais respeitados do país. Doutor em letras e membro da Academia Brasileira de Letras, Bechara  faz pesadas críticas aos apoiadores  da sociolinguísta,ou seja, aqueles  gramáticos e educadores que acham que é preconceito linguístico corrigir aluno. Essa visão  equivocada, segundo Bechara, põe em risco as chances de ascensão social  de milhões de crianças.  Após uma leitura minuciosa da entrevista de Bechara, o Blog  V&C  escolheu alguns tópicos para seu leitor refletir sobre o tema.


OPINIÃO DE  BECHARA SOBRE O LIVRO  POR UMA VIDA MELHOR:

O livro  Por uma Vida Melhor é um equívoco. Estão confundindo um problema  de ordem pedagógica com uma discussão sociolinguística que valoriza  o linguajar popular. Ninguém discorda que a expressão  popular tem validade como forma de comunicação, entretanto, ela não apresenta vocabulário nem  tampouco estatura gramatical que permitam desenvolver idéias de maior complexidade, tão essencial a uma sociedade que deseja evoluir. Por isso acho que não  cabe às escolas ensiná-las.

ALGUNS DE SEUS COLEGAS GRAMÁTICOS ACHAM QUE A NORMA CULTA É UM INSTRUMENTO DE DOMINAÇÃO DAS ELITES. O QUE O SENHOR ACHA DISSO?

Isso não passa de ortodoxia política. Um grupo de brasileiros tenta, em nome de uma doutrina, subverter a lógica e  desvalorizar o bom  Português

QUAL O PAPEL  DA LÍNGUA CULTA EM UM PAÍS COMO  O BRASIL?

Ela é um componente  essencial para a ascensão social. Qualquer pessoa,  dotada de mínima inteligência, sabe que  precisa aprender a norma culta para almejar melhores oportunidades. Privar brasileiros disso, é o mesmo que negar-lhes a chance de progredir na vida. Um gramático italiano falou uma coisa e eu concordo. Ao se fazer apologia  a expressão popular estão simplesmente segregando as classes sociais através da lingua. O ensino da norma culta é justamente o que ajuda a libertação dos menos favorecidos

COMO O DOMÍNO DA LÍNGUA CULTA PODE CONTRIBUIR PARA O FUTURO DO PAÍS?

Forjando cidadãos para preencher vagas que demandem alta qualificação, algo crucial para a economia. Ao questionar a necessidade do estudo da gramática em  escolas do país, línguistas como Marcos  Bagno e tantos outros, estão nivelando por baixo o ensino do português. Com isso, acabam  reduzindo as chances de milhões de brasileiros aprenderem a se expressar com correção e clareza. Para ocupar um bom lugar no mercado de trabalho é pré-requisito principal que as pessoas não saiam por ai dizendo NÓS PEGA O PEIXE, versão ensinada no livro distribuído pelo MEC.

 A ADOÇÃO  DE PALAVRAS ESTRANGEIRAS NO BRASIL É EXAGERADA?

Sou a favor de combater os estrangeirismos. Não  faz sentido nenhum dizermos delivery no lugar de entrega ou  Coffee-break  no lugar de intervalo.

A INTERNET ESTÁ EMPOBRECENDO A LINGUAGEM CULTA?

Não vejo  a coisa dessa maneira. Se uma criança for bem instruída na língua culta na escola, ela vai saber utilizá-la quando necessário fora do ambiente da rede. Na internet, de fato, pratica-se uma linguagem peculiar usando símbolos e abreviações no lugar de palavras. Pra mim o perigo da internet é outro e se relaciona com o tempo. As crianças estão passando muito  tempo na frente do computador quando poderiam estar usando parte dele debruçados sobre livros e aprimorando assim o bom português.

Dica Gastronômica: Uma noite no "Au Fondue"

        Era Domingo, 29 de maio.20h.
       Cheguei sem reserva. Fui muito bem atendido com minha namorada.Rodízio de Fondues (filet mignon , peito de frango, chocolate com frutas que são: manga, mamão, maçã, abacaxi, banana e morango ...vários molhos e ingredientes para acompanhar sendo o mais surpreendente a tal de cebola caramelizada que é nota 10  além de uma espécie de purê de batata assado) 2 cocas, 1 Schweppes,1 Del Vale, Total: R$ 109,00. Barato para Lago Sul. Ainda mais quando a gente pode comer como um estivador .(Sinceramente, é muitíssima comida e de ótima qualidade. Valeu a pena mas...
Os pontos negativos são :
1-O ambiente é tão escuro que não dá para ler o cardápio.Poderia haver um pouquinho mais de luz que não atrapalharia as velas.
2- O cheiro de fritura e gordura às vezes chega a ser insuportável. Embora haja um aparelho de ar condicionado, não há nenhuma espécie de exaustor. Vc sai de lá literalmente "defumado".
Algumas mesas  têm a toalha de tecido sintético danificada por gordura quente ou pelo alcool usado como combustível para aquecer os recipientes.Vc chega num lugar de boa comida, garçons a caráter, gerente bacana,musiquinha suave... Pode parecer frescura, mas poxa, Lago Suuuuuul...aquele buracão na toalha passa uma imagem de desleixo, de Feira do Pedregal.
3- O lugar é pequeno e escondido.Há pouco espaço entre as mesas e todo mundo ouve a conversa do outro. O estacionamento também é pequeno.
       Vale  a pena. No Google Maps está ali:-15.840465, -47.883783 ou -15° 50' 25.67", -47° 53' 1.62".
Abraço a todos. JT

terça-feira, 5 de abril de 2011

A Questão das Cotas no Brasil - 7 - Cotas: uma nova consciência acadêmica


Cotas: uma nova consciência acadêmica, por José Jorge de Carvalho

A África do Sul, ainda nos dias do apartheid, já tinha mais professores universitários negros do que nós temos hoje
Enquanto cresce o número de universidades que aprovam autonomamente as cotas, a reação a esse movimento de dimensão nacional pela inclusão de negros e indígenas vai se tornando cada vez mais ideológica, exasperada e descolada da realidade concreta do ensino superior brasileiro.

Em um artigo recente ("O dom de iludir", "Tendências/Debates", 9/9), Demétrio Magnoli citou fragmento de um parágrafo de conferência que proferi na Universidade Federal de Goiás em 2001. Mas ele suprimiu a frase seguinte às que citou -justamente o que daria sentido ao meu argumento, que, da forma como foi utilizado, pareceu absurdo.

Sua transcrição truncada fez desaparecer a crítica irônica que eu fazia ao tipo de ação afirmativa de uma faculdade do Estado de Maine, nos EUA. O tema da conferência era acusar a carência, naquele ano de 2001, de políticas de inclusão no ensino superior brasileiro, fossem de corte liberal ou socialista.

Magnoli ocultou dos leitores o que eu disse em seguida: "Quero contrastar isso com o que acontece no Brasil. Como estamos nós? A Universidade de Brasília tem 1.400 professores e apenas 14 são negros". É 1% de professores negros na UnB. E quantos são os docentes negros da USP? Dados recentes indicam que, de 5.434 docentes, os negros não passam de 40. Pelo censo de identificação que fiz em 2005, a porcentagem média de docentes negros no conjunto das seis mais poderosas universidades públicas brasileiras (USP, Unicamp, UFRJ, UFRGS, UFMG, UnB) é 0,6%.

Essa porcentagem pode ser considerada insignificante do ponto de vista estatístico e não deverá mudar muito, pois é crônica e menor que a flutuação probabilística da composição racial dos que entram e saem no interior do contingente de 18 mil docentes dessas instituições.
Para contrastar, a África do Sul, ainda nos dias do apartheid, já tinha mais professores universitários negros do que nós temos hoje.

Se não interviermos nos mecanismos de ingresso, nossas universidades mais importantes poderão atravessar todo o século 21 praticando um apartheid racial na docência praticamente irreversível. É esta a questão central das cotas no ensino superior: a desigualdade racial existente na graduação, na pós-graduação, na docência e na pesquisa. Pensar na docência descortina um horizonte para a luta atual pelas cotas na graduação.

Enquanto lutamos para mudar essa realidade, um grupo de acadêmicos e jornalistas brancos, concentrado no eixo Rio-São Paulo, reage contra esse movimento apontando para cenários catastróficos, como se, por causa das cotas, as universidades brasileiras pudessem ser palco de genocídios como o do nazismo e o de Ruanda!

Como não podem negar a necessidade de alguma política de inclusão racial, passam a repetir tediosamente aquilo que todos sabem e do que ninguém discorda: não existem raças no sentido biológico do termo.

E, contrariando inclusive todos os dados oficiais sobre a desigualdade racial produzidos pelo IBGE e pelo Ipea, começam a negar a própria existência de racismo no Brasil. Fugindo do debate substantivo, os anticotas optam pela desinformação e pelo negacionismo: raça não existe, logo, não há negros no Brasil; se existem por causa das cotas, não há como identificá-los; logo, não pode haver cotas.

Raças não existem, mas os negros existem, sofrem racismo e a maioria deles está excluída do ensino superior. Felizmente, a consciência de que é preciso incluir, ainda que emergencialmente, só vem crescendo -por isso, a presente década pode ser descrita como a década das cotas no ensino superior no Brasil. Começando com três universidades em 2002, em 2009 já são 94 universidades com ações afirmativas, em 68 das quais com recorte étnico-racial.

Vivemos um rico e criativo processo histórico, resultado de grande mobilização nacional de negros, indígenas e brancos, gerando juntos intensos debates, dentro e fora de universidades. Os modelos aprovados são inúmeros, cada um deles tentando refletir realidades regionais e dinâmicas específicas de cada universidade.

Essa nova consciência acadêmica refletiu positivamente no CNPq, que acaba de reservar 600 bolsas de iniciação científica para cotistas. Se o século 20 no Brasil foi o século da desigualdade racial, surge uma nova consciência de que o século 21 será o século da igualdade étnica e racial no ensino superior e na pesquisa.

* José Jorge de Carvalho é professor da UnB (Universidade de Brasília) e coordenador do INCT - Instituto de Inclusão no Ensino Superior e na Pesquisa do CNPq. É autor de "Inclusão Étnica e Racial no Brasil" (Attar Editorial)