Paulo Freire
faria 90 anos neste 19 de setembro de 2011. O nobre recifense diferenciou-se
das correntes
de “esquerda” defendendo o diálogo com
as pessoas mais humildes e colocando sempre a ênfase do seu trabalho na prática
concreta e não apenas no discurso. Paulo Freire desenvolveu um método inovador
de alfabetização de forma que no nordeste,em 1963, ensinou 300 adultos
(cortadores de cana) a ler e a escrever em 45 dias. Aproximou-se do Movimento
“Teologia da Libertação” e através dos trabalhos de alfabetização , influenciou
de certa maneira as Comunidades Eclesiais de Base. Foi professor, diretor de
diversos departamentos em Universidades e outros instituições assim como
secretário de Educação na Prefeitura de Luiza Erundina em 1988. Além de
pensador renomado, Paulo Freire influenciou a chamada Pedagogia Crítica onde o
educando seguiria e construiria seu próprio rumo no aprendizado. Faleceu em maio de 1997 na
capital paulista. Freire foi um grande líder que influenciou e influencia os
abnegados “operários da educação” como se fosse o proprietário de uma grande
vinha tal qual a relatada numa parábola do Novo Testamento.
Na parábola dos vinhateiros no Livro
de São Mateus, é narrado que um pai de família sai ao romper da manhã para
contratar operários para a sua vinha. “Ajustou com eles um denário por dia e enviou-os
para o trabalho. Cerca da terceira hora, saiu ainda e viu alguns que estavam
na praça sem fazer nada. Disse-lhes ele: - Ide
também vós para minha vinha e vos darei o justo salário. Eles foram. À sexta
hora saiu de novo e igualmente pela nona hora, e fez o mesmo. Finalmente,
pela undécima hora, encontrou ainda outros na praça e perguntou-lhes: - Por
que estais todo o dia sem fazer nada? Eles responderam: - É porque ninguém
nos contratou. Disse-lhes ele, então: - Ide vós também para minha vinha. Ao
cair da tarde, o senhor da vinha disse a seu feitor: - Chama os operários e
paga-lhes, começando pelos últimos até os primeiros. Vieram aqueles da
undécima hora e receberam cada qual um denário. Chegando por sua vez os
primeiros, julgavam que haviam de receber mais. Mas só receberam cada qual um
denário. Ao receberem, murmuravam contra o pai de família, dizendo: - Os
últimos só trabalharam uma hora... e deste-lhes tanto como a nós, que
suportamos o peso do dia e do calor. O senhor, porém, observou a um deles: -
Meu amigo, não te faço injustiça. Não contrataste comigo um denário? Toma o
que é teu e vai-te. Eu quero dar a este último tanto quanto a ti. Toma o que
é teu e vai-te. Eu quero dar a este último tanto quanto a ti. Ou não me é
permitido fazer dos meus bens o que me apraz? Porventura vês com maus olhos
que eu seja bom? Assim, pois, os últimos serão os primeiros e os primeiros
serão os últimos. Muitos serão os chamados, mas poucos os escolhidos.”
Na última semana , o Ministro Fernando
Haddad explicou o baixo rendimento das escolas públicas e afirmou que os
baixos índices da Escola Pública estão mais associados a fatores econômicos
que `a qualidade das escolas públicas. É como se uvas de tamanho diminuto e
insatisfatório assim o fossem por causa da qualidade do terreno e não por
imperícia e incompetência do operário. Sendo assim, não seria verdade que o
desenvolvimento econômico aliado às modificações demográficas positivas seriam fatores muito mais decisivos no progresso
educacional brasileiro do que simplesmente o investimento em educação não
direcionado? O problema da Escola Pública seria, portanto, um problema mais de
“clientela” que de formação docente? Deste modo, não seria papel fundamental
do processo educativo melhorar essa clientela de forma que ela aprendesse os
códigos da elite de modo que pudesse se libertar das amarras sociais
alcançando um novo patamar na sociedade? Não seria então mais importante “
cuidar do solo, da oferta de nutrientes” para conseqüentemente “melhorar a
vinha” e deixar os trabalhadores mais satisfeitos produzindo uvas melhores e
recebendo melhor recompensa do fruto do seu trabalho?
Sendo assim, qual é a escola que
queremos? Uma escola voltada para o trabalho? Para a cidadania? Uma escola
que aos dizeres de Freire seria “ bancária, tecnicista e alienante” ou uma escola
“libertadora”?A figura do Professor poderia tomar o
lugar do dono da vinha que sai e vai ao encontro dos trabalhadores, que no
ambiente escolar, seriam os alunos.O fruto da vinha é o aprendizado.
O dono da vinha oferece a todos a
oportunidade de trabalhar em sua lavoura.No final, a todos é dado o mesmo
pagamento, afinal de contas, os trabalhadores da hora primeira deveriam se
sentir orgulhosos por terem a oportunidade de estarem trabalhando na vinha
desde o início e por serem grandes contribuintes na tarefa de produzir bons
frutos. É como na parábola do Filho Pródigo : o filho que permaneceu com o
pai não entendeu que a maior recompensa que ele pode ter tido é o fato de ter
permanecido ao lado do seu pai
participando do seu trabalho. Deste modo, devemos considerar que não
basta a atenção aos primeiros. É necessário preocupar-se com os últimos. Há
espaço para todos; e isso não é um mero doutrinamento “socialista” mas tão
somente uma estratégia de sobrevivência pacífica e harmoniosa em sociedade
antes que a massa rebelada se volte contra a elite perplexa.
Tais exemplos e ensinamentos são importantes para os dias
de hoje nos quais discutimos qual é o currículo que queremos e qual a escola
que buscamos. Será que todos os alunos e professores estão preparados para a
conclusão de que a dádiva maior é ser ativo integrante do processo
educativo?Será que nós, como professores cientes de nossas obrigações, temos
consciência do perfil do aluno que temos
e de qual é o nosso papel no processo educativo de cada um deles com
as suas particularidades e diferenças? Será que não exageramos quando às
vezes norteamos nosso trabalho nos vestibulares e ENEMs da vida com a falsa
concepção de que o mais importante é
que todos poderiam ser engenheiros ou médicos? O que realmente
deveríamos fazer para oferecer uma vida melhor aos jovens?
Noventa anos depois de ter surgido,
Paulo Freire se mostra tão atual quanto na década de 60 com o seu exemplo de
administrador da vinha, que nos
convida a todos a pensar sobre nossas práticas e a sermos prestativos e
compreensivos com aqueles que vêm depois de nós.
JT
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