Na quarta feira, 07 de setembro, fiquei deitado assistindo
programas gravados no canal a cabo VIVA que é um canal de TV por assinatura brasileiro, que
faz parte do grupo Globosat. Passava um capítulo da novela Roque Santeiro que foi apresentada pela Rede globo em TV aberta
em 1985,baseada em um trabalho original de Dias Gomes, a peça de
teatro O Berço do Herói.
Na peça, um cabo do exército brasileiro na Campanha da Itália
em plena Segunda Guerra Mundial sai correndo em direção ao exército inimigo e é
tido como morto findada a batalha. Como seu corpo nunca fora encontrado, é tido
como herói de guerra, à partir disso tudo , em sua cidade natal começa a tomar
forma um grande sistema de comércio turístico explorando a história do herói
morto, passando a cidade inclusive a se chamar “Cabo Jorge”. Quase todos os
órgãos, clubes e entidades da cidade passam a se chamar “Cabo Jorge”. Eis que
20 anos depois, o fujão aparece na cidade e se encontra com o prefeito, que é
seu amigo de infância. O herói conta que “sofrera um ataque de pavor, saindo
correndo aos gritos com o fuzil em mãos e sem olhar pra nada; havia muita
fumaça e névoa, passou por cadáveres de alguns alemães, só então percebendo que
havia corrido em direção às linhas inimigas, ouvindo cada vez mais distantes
seus companheiros gritando atrás de si, passou por escombros, mais adiante
continuando a correr sem saber por que ou conseguir parar viu-se dentro de uma
floresta onde se perdeu. Fazia frio, final de outono europeu, quase inverno,
tempo encoberto. Após passar por maus bocados durante o dia e vagar um tempo
que ele não sabe especificar, durante o qual os sons de batalha foram ficando
cada vez mais distantes, ele avistou uma casinha, viu luz, aproximou-se cautelosamente,
observou sorrateiramente pela janela uma bela mulher, que estava sozinha. Ele
resolveu bater, ela atendeu e o deixou entrar para se aquecer, lá passou a
noite, um dia, dois, foi ficando, foram se entendendo, o tempo passou, a guerra
acabou e ele decidiu continuar vivendo ali com ela. Conforme o tempo passava,
algumas pessoas iam chegando enquanto outras iam voltando às casas que tinham
abandonado durante a guerra; com ninguém se lembrando ou mesmo se importando em
como ele havia chegado ali, se tornara assim parte do lugar e aceito por todos.”[1] Na peça, o prefeito e outras pessoas que
lucravam com a história, decidem se livrar do visitante inoportuno e o acabam
envenenando.
A novela Roque
Santeiro teve a peça como base, sendo o Cabo Jorge substituído por um coroinha
com extrema habilidade em confeccionar estátuas de santos e que acabaria
morrendo ao enfrentar as tropas de um criminoso, o bandido Navalhada. Dessa
forma, Luiz Roque Duarte, conhecido como Roque Santeiro passa a figurar como
santo até que retorna à cidade 17 anos depois. O enredo da novela gira em torno
da presença do ilustre forasteiro que muita ente não conhece.
Na última cena que assisti, Sinhozinho Malta
entra preocupado no quarto de Viúva Porcina , que está de camisola, sem muita
parte do corpo à mostra e falando dormindo pedindo para alguém se retirar.
Sinhozinho a acorda e pergunta com quem ela tava falando, desconfiado de que
estivesse sonhando com Roque (que está hospedado na casa de Porcina).
Sinhozinho, sobressaltado, então tranca a porta do quarto e diz que vai mandar
colocar um monte de trancas. Vai até o quarto de Roque que está deitado sem
camisa , com um livro sobe o corpo com
título “O intrépido Garanhão”. Sinhozinho tira a chave do lado de dentro
da porta, coloca do lado externo , sai do quarto, fecha a porta e a tranca pelo
lado de fora. Sinhozinho então coloca o Chapéu e suspira aliviado.
A peça[2] é uma
crítica à forma como nossos heróis são criados, e escrita na década de 60, em
pleno regime militar, seria censurada na década de 70 , mesmo sendo modificada
em conteúdo e no título para “Roque Santeiro”, podendo ser exibida somente em
1985 no Governo Civil de José Sarney depois do fim da Ditadura Militar.
Não se fazem mais novelas como
antigamente.
J.T. Basilisco.
[1] http://pt.wikipedia.org/wiki/O_Ber%C3%A7o_do_Her%C3%B3i
[2] Em PDF , eis a peça: http://pt.scribd.com/doc/17872583/Dias-Gomes-Roque-Santeiro-ou-O-Berco-do-Heroi-pdfrev
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