Dizem os filósofos que liberdade
é uma espécie de “independência”. Descartes diz que é livre quem compreende as
alternativas para a escolha, Spinoza sugere que é livre quem age de acordo com
a própria natureza e Nietzsche diz que é livre o homem que é um criador de novos valores. Muitos outros
filósofos têm outras definições para o que seja a Liberdade.
O sujeito que goza plenamente de liberdade é
dotado de uma espontaneidade racional, uma autonomia característica de quem é
livre. Melhor falando: seria uma pessoa que pensa com a própria cabeça e não
uma pessoa que apenas repete aquilo que o mestre mandou. Dizem que quem se submete
ou serve involuntariamente a algo ou a alguém não é uma pessoa livre, afinal de
contas a liberdade não se vincularia a algo externo à própria racionalidade de
quem tem os atributos por ela fornecidos.
Existe um vício indecente nas grandes
escolas de maneira que a Educação seja
conduzida de tal forma que o Ensino seja orientado como se todos estivessem
predestinados a serem médicos e engenheiros. A própria Educação encontra-se
engessada como se os jovens fossem obrigados a já definir no Ensino Médio
aquilo que eles serão para o resto da vida. Dentro do ambiente escolar não se discute de maneira objetiva e satisfatória fatores tais como reprovação, evasão e adaptação de conteúdos.E quando se discute, não se aponta uma solução ou mecanismos de melhoramento.Uma Educação nesses termos com
certeza não atende às prerrogativas do que seria uma Educação para a Liberdade.
Contrariando a prática cotidiana, dizem os educadores que a Educação deve
libertar e abrir o número de possibilidades e não restringi-las. Os jovens
devem ser ensinados a construírem seu próprio caminho com uma autonomia
racional. “Estudar é preciso! Aprender para ser livre!” Diferenciar verdade de
mito, Ciência de Crendice. Transformar a sociedade, produzir riqueza. Reduzir a
desigualdade. Eis o novo mantra: Tornar-se bem sucedido no individual para que
isso se manifeste no coletivo. A educação que liberta é uma educação que ensina
a duvidar: nenhum caminho é seguro, nenhuma verdade é absoluta. Quem pensa com
a própria cabeça, mesmo que pense errado, não acredita em tudo o que se diz,
seja na escola ou fora dela. A escola muitas vezes, em vez de educar,
domestica. Como se estivesse fazendo um grande favor em tornar o aluno um “animal
melhor”. Um animal domesticado vai por onde seu dono o leva. Um animal da
floresta vai atrás da própria comida. Na ânsia de tornarem os alunos discípulos
“melhores”, muitos mestres valorizam apenas as competências que eles mesmos colocam
no prato, desvalorizando as outras vertentes de aprendizado que culminam em
outros conteúdos significativos.
A educação deve fazer com que o aprendiz olhe para trás, compreenda a
justificação histórica das coisas, entenda o porquê de se encontrar no estágio
em que se encontra, no estado em que está. Se por acaso o processo educativo o fizer descer um
degrau , que seja para pegar impulso para saltar 2. Deve fazê-lo mover-se para
frente, sair do estado de letargia. Um estudante que não sabe onde ele mesmo e seus
semelhantes estavam e onde estão não poderá determinar para onde ele mesmo vai
ou antever para onde os segundos vão. Quem não determina para onde vai e não
observa previamente para onde os outros vão não é protagonista da própria
história. O problema maior é que essa liberdade, que deve ser um produto da
Educação, não é automática e muito menos absoluta. Quem de nós sabe exatamente
para onde vai ou relembra perfeitamente os caminhos por onde pisou? Até que
ponto se ensina nas escolas uma espécie de texto instrutivo que às vezes quem o
ensina jamais colocou a receita no forno? Por acaso são os professores livres
para ensinarem os alunos a também serem livres? Não sendo livres, por acaso
seriam escravos?Até que ponto o professor é Senhor no processo educativo e até que ponto é lacaio? O que um escravo aprende quando é ensinado por outro escravo?
Ele aprende a ser livre ou aprende a ser um escravo melhor? Haverá um pouco de
escravo e um pouco de liberto em cada um que ensina e em cada um que aprende?
Seria a liberdade uma construção que não acaba e é sempre
exercida com diversas variantes de graduação?
Alguém diria em uma parábola biológica que a Liberdade tem tentáculos, pseudópodos e protuberâncias. Para que servem tentáculos? Os
polvos não os usam para agarrar? Com os tentáculos eles não se defendem? Com esses apêndices não
segmentados eles não tateiam o ambiente em busca do que lhes é útil? Por acaso não se alimentam usando os
tentáculos? E os tentáculos da água-viva? Seriam eles inofensivos? Não haveria
neles cnidoblastos com substâncias urticantes que paralisariam pequenas presas?
Dessa maneira, seria por acaso a liberdade inofensiva? Poderia um cnidócito matar um Dragão de Komodo?
E os pseudópodos? Para que as amebas os utilizam? Não seriam essas extensões
fluidas de citoplasma utilizadas para englobar partículas para que sejam digeridas?
E por acaso digerem tudo? Uma ameba consegue digerir partículas de sílica? Uma liberdade
pode destruir uma verdade cortante? E o que ocorre quando uma liberdade
individual se encontra com outra liberdade individual? Por acaso elas se
acariciam mutuamente e deslizam uma sobre a outra como se fossem lisas e
esféricas ou se emaranham e se prendem através de protuberâncias que provocam atrito e conflitos?
Não seria a “disciplina coletiva” uma
espécie de lubrificante que diminui o atrito de uma liberdade com outra
liberdade? Essa disciplina coletiva se aplicaria a quem aprende ou também a
quem ensina?
Podemos usar um pressuposto:" não
existe liberdade absoluta". A liberdade deve estar condicionada a certas regras mínimas.
A Educação que liberta ensina a fazer tudo que se quer? O querer é voluntário ou surge de
algo que não entendemos? Nós queremos
porque queremos querer ou esse querer é involuntário? Se o querer é fruto de uma
vontade que está fora da razão da própria pessoa, podemos afirmar com
segurança: aquele que faz tudo aquilo que quer não é uma pessoa livre; é na
verdade um escravo de uma vontade que ele não domina, mas que por ela é
dominado. Uma Educação para a Liberdade é aquela que permite que uma liberdade
individual não impeça a existência de outra liberdade individual. O Educar para
a Liberdade atende e sintetiza os pressupostos dos 3 filósofos citados: dá ao
aluno conhecimento das alternativas para as escolhas e não a escolha pronta, assim
como lhe possibilita a compreensão de sua própria natureza para que isso se
comunique com os valores que serão gerados a partir da sua própria existência e
não restritamente com os valores esperados de uma sociedade domesticada.