Hoje pela manhã (29-11) estávamos comentando na sala dos professores:
colocar um aluno de 1º ano de Ensino Médio para ler “Cartas Chilenas” e outros
livros indicados para o Programa de Avaliação Seriada da UnB é uma violência e
um incentivo à aversão à leitura. Os alunos que lerão as obras constantes da
listagem certamente serão os poucos dedicadíssimos além da média. Bem que o
CESPE poderia colocar um ou outro exemplar de livros “instrutivos que fossem
divertidos” para que quem ainda não goste de ler fosse tomando gosto pela
leitura. O engraçado é que quando cheguei em casa reli um pouco do “Humano ,
demasiado humano” do Friedrich Nietzsche que eu tenho comigo desde 2001 e que
não está na lista do PAS. Algum “centauro invertido” misturado com Fanfarrão
Minésio preferiu colocar “Crepúsculo dos Ídolos” na listagem de leitura , como
se os alunos já houvessem lido as obras dos “ídolos” de que o livro trata ou
ouvido música clássica de Wagner. O alemão dá uma de morde e assopra, mas é interessante o trecho do “Humano, Demasiado Humano” , onde precisamente
no aforismo 266 , Nietzsche fala:
“Efeito Subestimado do ensino
ginasial – Geralmente não enxergamos o valor do ginásio nas coisas que nele
aprendemos de fato e que dele sempre conservamos, mas naquelas que são
ensinadas e que o aluno assimila a contragosto para delas se livrar o mais rapidamente
que possa. A leitura dos clássicos – toda pessoa educada há de convir – é, do
modo como se realiza em toda parte, um procedimento monstruoso: feita para
jovens que de modo algum estão maduros para ela, e por professores que com toda
a palavra, às vezes com a própria figura, já cobrem de mofo qualquer bom autor.
Mas nisso está o valor que normalmente não é reconhecido – esses professores
falam a língua abstrata da cultura superior, pesada e difícil de compreender,
mas uma elevada ginástica da mente; em sua linguagem aparecem continuamente
conceitos, termos especiais, métodos, alusões que os jovens quase nunca ouvem
na conversa com familiares ou na rua. Se os jovens apenas ouvirem, seu
intelecto será involuntariamente preparado para um modo de ver científico. Não
é possível que alguém saia dessa disciplina totalmente intocado pela abstração,
como puro filho da natureza.”
NIETZSCHE, Humano, Demasiado Humano.
NIETZSCHE, Humano, Demasiado Humano.
Estão vendo? Nietzsche faz
parte do nosso cotidiano e a gente nem se dá conta.
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