Seja bem vindo.

A voz do Basilisco não é tão feia quanto parece.

domingo, 19 de setembro de 2010

Nietzsche, Schopenhauer e as tendências suicidas.*

       

     O  suicídio é uma das principais causas de morte da modernidade, principalmente entre adolescentes e adultos com menos de 35 anos de idade.[1] Fatores tais como  depressão, transtorno bipolar, esquizofrenia, alcoolismo e abuso de drogas, dificuldades financeiras e/ou emocionais  desempenham um fator significativo como causas para o suicídio.Há casos também de suicídios por conta de causas políticas ou por motivos religiosos.
      Quem nunca desejou "Morrer , dormir-mais nada-e com um sono supor que acabamos com a angústia e com os mil embates naturais que herda o homem com todas as suas limitações e fraquezas."? [2] Quem nunca perguntou a si se não seria melhor não ter nascido?
       Falando com uma moça sobre os efeitos do Clonazepan e da Fluoxetina que ambos havíamos tomado, ela me disse que tinha um certo interesse pela obra de Nietzsche mas que não o lera por conta de tendências suicidas latentes. Num aforismo específico do seu "Para além do bem e do mal." o autor fala que "A idéia do suicídio é uma grande consolação: ajuda a suportar muitas noites más".[3] Em outros escritos , afirma através de outro aforismo que "O suicídio é admitir a morte no tempo certo e com liberdade." 
       Em sua primeira obra publicada , a qual foi um de seus últimos escritos que li e uma das minhas prediletas, Nietzsche escreve: "Também a arte dionisíaca quer nos convencer do eterno prazer da existência: só que não devemos procurar esse prazer nas aparências, mas por trás delas.Cumpre-nos reconhecer que tudo quanto nasceprecisa estar pronto para um doloroso ocaso; somos forçados a adentrar nosso olhar nos horrores da existência individual - e não devemos toda via estarrecer-nos: um consolo metafísico nos arranca momentaneamente da engrenagem das figuras mutantes. (...) Apesar do medo e da compaixão,somos os ditosos viventes,não como indivíduos, porémcomo o uno vivente, com cujo gozo procriador estamos fundidos.[4]

        Nietzsche era entusiasta da obra de Arthur Shopenhauer que abordou,dentre outros assuntos,temas relacionados à morte e ao suicídio no seu "O mundo como vontade e representação." O pessimista Scopenhauer chegou a afirmar que "O suicídio é a positivação máxima da vontade humana." Com isso , ele tornaria claro que embora o homem não tenha o poder de interferência sobre o próprio nascimento, o mesmo não se daria com a sua morte. Com uma marreta invisível , esses dois alemães derrubam as colunas da fé num trabalho de Sísifo. Quanto mais chegamos perto das colunas, percebemos o quanto elas se encontram deterioradas ou até mesmo inexistentes. O problema é que se chegamos muito perto, corremos o risco de sermos soterrados e não conseguirmos nos desvencilhar dos escombros. O risco do soterramento só é minorado quando colocamos outra coisa no lugar da fé que possa evitar que o teto que sustenta as dores do mundo se rompa sobre nossas cabeças.
       O existencialismo me foi apresentado por volta de 1999 em um ônibus da Viplan que fazia o percurso do Plano Piloto para o Gama quando eu voltava da Universidade de Brasília. Um evangélico , por incrível que pareça, me indicou o "Assim falou Zaratustra" que eu pegaria emprestado da BCE da UnB e devolveria com 90 dias de atraso. O caminho da Universidade para o Gama está para mim como o caminho de Damasco estava para Saulo de Tarso. Se Saulo se tornou Paulo, eu me tornei um eu rumo a um Eu com "E" maiúsculo.Ao contrário do que muitos pensam, a obra dos alemães  supracitados , em vez de nos dar razões para morrer, na verdade nos dá razões para perseguir e agarrar a vida como uma das coisas mais valiosas do mundo.      
       A lição que eu tiro da obra dos grandes alemães  é a mesma lição que eu absorvo do Capítulo 9 do Eclesiastes , tão negligenciado pelos religiosos: "  Para aquele que está entre os vivos há esperança; porque mais vale um cão vivo do que um leão morto. Porque os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem coisa nenhuma, nem tampouco terão eles recompensa, porque a sua memória jaz no esquecimento. Amor, ódio e inveja para eles já pereceram; para sempre não têm eles parte em coisa alguma do que se faz debaixo do sol. Vai, pois, come com alegria o teu pão e bebe gostosamente o teu vinho, pois Deus já de antemão se agrada das tuas obras. Em todo tempo sejam alvas as tuas vestes, e jamais falte o óleo sobre a tua cabeça. Goza a vida com a mulher que amas, todos os dias de tua vida fugaz, os quais Deus te deu debaixo do sol; porque esta é a tua porção nesta vida pelo trabalho com que te afadigaste debaixo do sol. Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças, porque no além, para onde tu vais, não há obra, nem projetos, nem conhecimento, nem sabedoria alguma. Vi ainda debaixo do sol que não é dos ligeiros o prêmio, nem dos valentes, a vitória, nem tampouco dos sábios, o pão, nem ainda dos prudentes, a riqueza, nem dos inteligentes, o favor; porém tudo depende do tempo e do acaso"[5]
       Num dos trechos mais emblemáticos sobre a existência , Nietzsche diz:  " O erro sobre a vida necessário à vida. — Toda crença no valor e dignidade da vida repousa sobre pensamento impuro; só é possível porque a simpatia pela vida e sofrimento universal da humanidade é muito francamente desenvolvida no indivíduo. Mesmo os homens mais raros, que de modo geral pensam além de si mesmos, não captam no olho esse vida universal, mas partes delimitadas dela. Quem sabe dirigir seu olho principalmente a exceções, quero dizer, aos talentos superiores e às almas ricas, quem toma seu surgimento por alvo de todo o desenvolvimento do mundo e se alegra com suas obras, pode então acreditar no valor da vida, porque, com efeito, deixa de ver os outros homens: portanto, pensa impuramente. E, do mesmo modo, quem capta no olho todos os homens, mas só leva em conta neles um gênero de impulsos, os menos egoístas, e os desculpa no tocante aos outros impulsos: pode então, mais uma vez, esperar algo da humanidade em seu todo e nessa medida acreditar no valor da vida: portanto, também nesse caso, por impureza de pensamento. Mas quem procede de um modo ou do outro é sempre, ao proceder assim, uma exceção entre os homens. Ora, precisamente a maioria dos homens suporta a vida sem resmungar demais, e com isso acreditam no valor da existência, mas precisamente porque cada qual só quer e afirma a si mesmo, e não sai de si como aquelas exceções: todo extrapessoal, para eles, ou não é perceptível ou o é, no máximo como uma fraca sombra. Portanto, somente nisto repousa o valor da vida para o homem comum, cotidiano: ele se dá mais importância do que ao mundo. A grande falta de fantasia de que sofre faz com que não possa sentir-se dentro de outros seres e, por isso, ele toma parte o menos possível em seu destino e sofrimento. Quem, ao contrário, pudesse efetivamente tomar parte neles haveria de desesperar do valor da vida; se conseguisse captar em si a consciência total da humanidade e senti-la, ele sucumbiria, amaldiçoando a existência — pois a humanidade no todo não tem nenhum alvo e, conseqüentemente, o homem, ao considerar o decurso inteiro, não pode encontrar nele seu consolo e trégua, mas seu desespero. Se vê em tudo o que faz a falta de finalidade última do homem, seu próprio agir adquire a seus olhos o caráter do esbanjamento. Mas sentir-se, como humanidade (e não somente como indivíduo), tão esbanjado como vemos a florescência isolada ser esbanjada pela natureza, é um sentimento acima de todos os sentimentos. — Mas quem é capaz dele? Certamente apenas um poeta: e poetas sabem sempre consolar-se. " [6]
          Nietzsche afirma através de sua obra que não devemos ter vergonha do passado , de termos sido religiosos, ignorantes, superticiosos ou crédulos porque foi através dessas práticas , ignorâncias, supertições e  crenças que conseguimos chegar ao que somos hoje e que devemos fazer uso de tudo isso para chegarmos mais longe´.Shopenhauer, por sua vez, fala que superestimamos as dores em detrimento dos prazeres. Fala também que nunca notamos a sanidade do corpo mas que sempre lembramos onde o sapato aperta.
        Como uma nave que perde os estágios que serviam como reservatório, deixamos para trás  um peso desnecessário que nos foi útil quando estávamos próximos do chão. O alemão bigodudo também fala que muita gente que morreu precocemente não teve a oportunidade de viver os infortúnios que a gente tanto reclama. Devemos , portanto, nos regozijar por termos a oportunidade de termos experiências que homens de várias épocas e várias gerações não puderam ter, visto que até mesmo as adversidades modernas sofrem a incorporação de novos atributos e peculiaridades. Deste modo, não vejo na obra dos grandes alemães uma "apologia" ou indução ao suicídio. Encaro tudo isso mais como um "preconceito religioso". A descrença no transcedente deveria, pelo contrário, mostrar ao homem que a vida é única e que momentos felizes e infelizes são transitórios. Se essas conclusões não são suficientes para mudar o estado de consciência, quem sabe um medicamentosinho não resolva.
       Bebamos e comamos (no Outback , preferencialmente) pois amanhã morreremos.


*em homenagem à farmacêutica G.R.
J.T.




      





[1]Understanding Suicidal Behaviour. Leicester: BPS Books, 29 Jan 2000. p. 33–37.
[2]Shakespeare, William. Hamlet. Ato 3 .Cena I
[3] Nietzsche.Para Além do Bem e do Mal. Aforismo 157. Companhia das Letras
[4] O Nascimento da Tragédia. Capítulo 17. Companhia das Letras.
[6]Nietzsche.Humano, demasiado humano, 1878, primeiro volume, capítulo um,§ 33.Companhia das Letras
[5] Eclesiastes 9:4 a 11

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Estudando no Setor Sul do Gama

       Eu havia estudado entre 1984 e 1988 na Escola Classe 18 que funcionava num prédio de compensados cedido e localizado na área do Quartel de Polícia Militar no Setor  Sul do Gama. A estrutura da escola do meu primário era muito rústica, entretanto, o ensino era incomparavelmente superior ao que minhas filhas recebem nos dias de hoje, mesmo com amplo acesso a tecnologias.
        Na primeira série (1985), fui alfabetizado pelo politicamente correto Professor Jair. Aprendi a ler à base de muito cascudo , beliscão e puxão de orelha. De vez em quando , o Professor parava de escrever e de falar ( e de dar cascudo também) para poder saborear um cigarrinho. Se algum aluno fosse beber água no filtro ao fundo da sala sem pedir autorização...seria devolvido à sua cadeira através de puxões de cabelo e chacoalhadas por toda a sala.Engraçado...aprendi a ler muito rápido.
       A segunda série foi muito tranquila com a educadíssima Professora Carminha. Na 3ª série estudei com a professora Gilca. A formação era tão boa naquela época que uma vez ela mandou chamar a minha mãe para falar que teve que lavar a mão com álcool porque eu tinha desenhado o capeta em uma folha de papel. Fizeram uma reunião onde eu estava com todos os professores da escola ao meu redor, gente que eu nem conhecia, para saber o motivo pelo qual eu tinha desenhado um boneco de chifres. Foi uma  série muito traumática. A quarta série foi fantástica. Grande parte de minha formação devo à Professora Maria do Rosário, afinal de contas, saí do primário sabendo ler e realizar as operações básicas com tranquilidade; coisa rara hoje em dia para um aluno que sai do primário em escola pública.
       Em 1989 , eu seria despejado na 5ª série do matadouro do inferninho, onde aprendi , dentre outras coisas, a matar aula com o Lila, o Dida, Claudionei e meu irmão e a disseminar a história da mulher de algodão.Em 1989 e 1990 eu cursaria a 5ª e a 6ª série numa das piores escolas do Distrito Federal: o antigo Centro de Ensino 09 do Gama, onde além de levar uma "carreira" por dia, receberia chutes socos e teria a nuca queimada por um isqueiro encandescente. A escola existe ainda hoje, localizada entre as quadras 13, 17 e 15 do Setor Sul , no antigamente conhecido "Inferninho". O marginal que me queimou acabou morrendo pouco tempo depois com uma pancada de caibro na nuca enquanto perambulava pela quadra 11.
       A melhor coisa da escola era inventar peças de teatro para apresentar em sala a respeito dos diversos temas que os professores passavam. Uma vez,uma professora pediu para que a gente apresentasse alguma coisa que tivesse algo a ver com arte. A gente cantou uma espécie de funk onde havia um trecho onde um jovem negro apanhava da polícia depois de um arrastão. O trecho dizia: "E o crioulo o que diz?", e na música, uma voz  respondia como quem está levando uma surra: " O que foi que eu fiz?". A gente cantava os outros trechos da letra e esse trecho não muito polido era respondido por um outro aluno negro que se chamava Nelson. A professora achava uma gracinha.
       Em outra ocasião, a professora de Português pediu um trabalho que tratasse de Ecologia.  Não pensamos 2 vezes: eu, meu irmão e mais 2 ou 3 colegas atravessamos a DF 290 e descemos para o cerrado munidos de facões e machados. Fizemos uma devastação extraordinária para meninos de 12 anos. Pequizeiros e Mamacadelas sucumbiram ao nosso desejo de aprendizado,e dessa forma, à tarde durante a aula , transformamos  o recinto sagrado de nossa classe em uma imensa floresta.
       A professora nos deu uma boa nota, afinal de contas, havíamos acabado de ensinar aos nossos coleguinhas a importância de se preservar o meio ambiente.

Brasília é a Polônia petista

        Nas eleições que se avizinham, hei de votar em Dilma Roussef e Agnelo Queiroz. É o voto útil e não o voto ideológico. Na verdade, eu sou uma espécie de jacobino a la Danton cercado de jacobinos a la Robespierre.Não sou daqueles que falam que a Dilma Roussef é uma heroína e que o PSDB representa o Reino do Mal. Também não sou daqueles que odeiam banqueiros, que detestam a Rede Globo e que amam o MST.Meu voto é uma ação puramente individual e , sinceramente, nao tenho a certeza de que estou fazendo a melhor ação do mundo.
       Acontece que votar no Roriz  é algo um tanto quanto atrasado. Dos eleitores roriziztas que eu conheço , a maior parte é mal instruída e a menor parte é mal intencionada. Sinceramente, os escândalos do Governo Arruda deixaram à mostra a cabeça do monstro do Lago Ness. O o corpo da criatura tenta submergir agora, mas graças ao ficha-limpa, permanecerá submerso. O Agnelo é sem dúvida o melhor candidato para o Distrito federal.
       O que me amedronta e´a hipótese de o PT paulista tomar posse das trincheiras distritais para fazer a sua batalha particular em vez de resolver os problemas locais. Além disso, será a primeira vez que teremos a chance de ver um GDF petista sob a tutela do Governo Federal (também petista).No momento em que digo isso, Dilma ultrapassa a casa dos 50% e Agnelo coloca 15% de vantagem na sucessão ao Buriti.  Uma boa experiência no DF na próxima gestão (o que eu espero) seria um ótimo ponto de partida para o avanço petista sobre outros estados brasileiros pretendidos há muito tempo.
        A invasão da Polônia pelos alemães, também conhecida como Operação Fall Weiss, marcou o início da Segunda Guerra Mundial. Não querendo comparar o nazismo com o petismo (nada a ver uma coisa com a outra, assim espero)...em vez da bandeira vermelha com a suástica ao centro, teremos  a flâmula escarlate com uma estrela no meio.Com verba própria, apoio federal e Fundo Constitucional fica mais fácil mostrar ao país um belo cartão de visitas para pretender um vôo mais alto, principalmete se o Fürer decidir voltar em 2014 para dar continuidade ao Reich Petista de 20 anos. É isso mesmo, o sucesso administrativo no Distrito Federal é a nossa "Invasão da Polônia".
       É complicado manter uma convicção partidária e ser advogado de causas que a gente não acredita. Votar no Serra e na companhia pefelista? Bom, nada contra, mas também nada a favor. Não houve nada na campanha tucana que tenha me agradado. O PSDB está cercado de gente ruim de serviço. Nem as manifestações e discursos das tribunas das casas legislativas são capazes de levantar questões que exalem alguma importância.Marasmo total.O PT nada de braçada.Nada de novo no Reino da Dinamarca.Esconderam  as boas coisas que o grande brasileiro Fernando Henrique Cardoso deixou desde o Governo Itamar. Como dar crédito ao filho que tem vergonha da própria mãe?Se é para o Serra defender  o que o Governo Lula fez, é sem dúvida bem melhor que o PT continue com o que o próprio PT vem fazendo.
       O meu olhar de soslaio com relação aos petistas  se dá por conta da inimputabilidade que eles conferem a si mesmos. Há muito tempo perderam a capacidade de exaltar e proliferar a informação que seriam os titulares do monopólio da ética...mas o alarde do eventual monopólio da inteligência e do bom-caratismo ainda permanecem. Lambança após lambança, bisbilhotam informações sigilosas, aparecem associados a arapongagens e escândalos repetitivos e avançam sobre liberdades individuais.Qualquer petista acusado de qualquer coisa é inocente até que se prove o contrário. Qualquer não-petista é culpado independentemente do resultado do julgamento. Qualquer um que criticar alguma proposta ou ação nefasta do governo vermelho é tido como uma pessoa de caráter duvidoso ou no mínimo como uma pessoa com interesses paralelos. Além disso, por pouco os petistas não falam que foi um deles que inventou a roda lá nos tempos da pré-história.
       Meus colegas de esquerda estão com a Dilma. Sarney e Collor estão com ela também. Os banqueiros t estão com Lula (desde 2002).Os sindicatos do DF já circundam o candidato vermelho ao GDF. A pelegagem institucionalizada lança seus tentáculos para toda parte e o projeto classista começa a deixar claro que o objetivo para o futuro é ser meramente uma sucursal do poder.
       Estranhos tempos são esses onde lutar por uma burocracia especializada, não concordar com o aparelhamento do Estado e com a adesão sindical ao Governo é ser reacionário. Confusa época essa onde defender a maciça atuação regulatória do Poder Estatal é tido como revanchismo bolchevique.Não dá para  defender uma socialização do Capitalismo?  Complicado...muito complicado...O petista habitual tem como crença que os seus motivos são sempre os melhores motivos, as suas crenças são as mais verossímeis, suas intenções são as mais desprovidas de interesse individual, e suas razões são sempre as melhores para o seu próximo e para a coletividade.
        A estátua de Nabucodonosor não tem os pés visíveis. Tomara que estejamos preparados para quando o gigante venha a sucumbir sob seu próprio peso.

JT Basilisco.


"Dar à burguesia a arma da liberdade de imprensa é facilitar e ajudar a causa do inimigo. Nós não desejamos um fim suicida, então não a daremos."
Vladimir Lenin, em 1912

Banqueiros com Lula: http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u53901.shtml

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Fim do mundo o escambal!

Um colega um tanto religioso chegou perto de mim esses dias e lançou as palavras proféticas: "Irmão, o fim está próximo." "Próximo o quê?"-perguntei. "O fim dos tempos", setenciou. "Mas de onde você tirou essas conclusões, meu caro"?- insisti. E ele então citou a Bíblia dizendo que perto do fim haveria grandes guerras, terremotos, fome , pestilências etc. Falou ainda que o mundo está ficando pior.
Pobre colega, não sabia ele que as guerras de hoje são coisa pequena frente às guerras de outrora. Na Guerra do Golfo morreram pouco mais de 100 mil pessoas. Na 1ª grande guerra morreram mais de 19 milhões. Na segunda , foram mais de 70 milhões de mortos, praticamente o mesmo número de mortos que Mao produziu na China. As guerras da antiguidade mataram gente que só vendo. Isso sem falar das intermináveis batalhas do Velho Testamento nas quais os filhos de Israel passavam a espada sem piedade em qualquer filisteuzinho que se metesse a besta.
E os terremotos?Em 1556 morreram mais de 800 mil na China num tremor em uma cidade chamada Shaanxi .Lisboa foi destruída em 1755 com mais de 100 mil mortos por conta de um terrível abalo. Há casos recentes de terremotos no México, Chile, Haiti e outros tantos lugares. Continuará havendo pois a Terra está em constante transformação e não porque esteja próximo o fim do mundo.
A produção de alimentos tem crescido. Malthus errou em suas analogias de P.A. e P.G. Não pôde prever os avanços tecnológicos nas ciências biológicas e a implementação dessas tecnologias nas técnicas agrárias. A tendência é que o crescimento mundial se estabilize e que a tecnologia nos ensine a produzir mais degradando menos e em menos espaço.
E as pestilências? Eu nunca tive um vizinho que tenha contraído varíola. Já foi erradicada há muito tempo. Amostras dos agentes patogênicos? Somente em laboratórios especializados.Sarampo, caxumba e rubéola estão pertinho de serem erradicadas.
Como é bom viver numa época em que existe anestesia. Já pensou extrair o apêndice ou fazer uma vasectomia à base de cachaça? Qualquer viagem curta demorava uma eternidade pois os meios de transporte não eram tão diversos e velozes como os de hoje. Hoje tem internet para um contigente crescente que paulatinamente faz uso desse meio de comunicação, informaçoes via satélite , forno de microondas, telefones celulares ,vacinas, remédios produzidos em larga escala, whey protein e outros suplementos alimentares, polivitamínicos...
Além disso, hoje em dia , a gente pode falar mal do Lula, criticar o governador e tantos outros. Se fosse a época do absolutismo, o Rei mandaria e desmandaria e haja guilhotina para tanta cabeça.O mundo não piora. O mundo só melhora. Não há nada em essência que seja muito novo sobre a Terra. Hoje em dia é o melhor dia de todos os tempos. Quem dera viver 10 anos numa época futura.
JT

quinta-feira, 15 de julho de 2010

O NASCIMENTO DA TRAGÉDIA


Há alguns anos, por volta de 1998, um amigo evangélico me apresentou o “Assim falou Zaratustra” do filósofo alemão Friedrich Nietzsche. De lá para cá já li quase a obra completa do autor , inclusive os fragmentos isolados publicados pela Editora da Universidade de Brasília.
Um dos últimos livros de Nietzsche que li foi o primeiro que ele publicou em 1872 : O Nascimento da Tragédia no Espírito da Música (em alemão: Die Geburt der Tragödie aus dem Geiste der Musik). O livro que eu tenho é da Editora Companhia das Letras. O autor publicou a obra antes dos 30 anos de idade.
Na obra, além de confrontar o Dionisíaco com o Apolíneo no que se refere à tragédia, Nietzsche trata de coisas que eu julgo muito mais importantes que esses “pormenores filosóficos” às vezes não muito inteligíveis. Ele fala de como a tragédia surgiu, porque surgiu, em qual contexto histórico e porque entrou em declínio. É uma obra interessante para quem se interessa pelos fenômenos estéticos. Você que está lendo quer saber de detalhes filosóficos? Vá ler o livro ou consultar as enciclopédias. O que eu vou dizer agora, você não vai encontrar em nenhuma resenha e em nenhum resumo sobre “O Nascimento da Tragédia”:
Nietzsce sugere que a tragédia surgiu precisamente na Grécia porque os gregos foram os primeiros a reconhecer “a problemática da existência”...isso mesmo, crises existenciais, momentos reflexivos com a consciência exacerbada , essas coisas que a gente sente quando está “puto da vida” ou com problemas irresolutos. A tragédia mostrou a sua face surgindo precisamente quando os gregos estavam vivendo as Guerras Médicas[1], exatamente no Século V antes de Cristo, e é nesse período que vivem Sófocles, Ésquilo e Eurípedes; os grandes trágicos gregos. Ésquilo o mais antigo , até lutou na guerra contra os persas. Sófocles parecia um sujeito bem quisto, inteligentíssimo e com muito talento artístico. Eurípedes foi o último dos 3 grandes trágicos gregos e segundo Nietzsche, o graaaaaande responsável pelo declínio da tragédia. Sabem por quê? Bem...Eurípedes desequilibrou a relação entre o “apolíneo” e o “dionisíaco” acabou com o esquema de colocar mitos nas peças, as suas obras ficaram um tanto que mais “profundas”, ou de certa forma, com “análises psicológicas pormenorizadas”.Ou seja: “ Eurípedes quis dar uma intelectualizada no negócio e acabou tirando a graça da parada.” O tal do “enredo” saia do foco e em seu lugar entrava a “mensagem”. Além disso , acabou com o coro[2] e participação do público.Deu no que deu.
O Nascimento da Tragédia no Espírito da Música é um livro que vale a pena ler. Não somente para nos instruir mas também para vislumbrarmos o “seio intelectual” no qual mamaram Sócrates e Platão e que por consequência , mamamos todos nós até o dia de hoje.
J.T.
[1]http://educacao.uol.com.br/historia/guerras-medicas-contexto.jhtm
[2]http://www.fcsh.unl.pt/invest/edtl/verbetes/C/coro.htm

quarta-feira, 14 de julho de 2010

TROPA DE ELITE: o melhor filme brasileiro de todos os tempos.


Um belo dia, em 2007 ou começo de 2008, não me lembro bem, meu irmão me apresentou um CD pirata de um filme nacional. "Deve ser uma bosta!", pensei. Grande engano. "Nunca antes na história deste país " produziu-se um filme de qualidade tão elevada! Foi o que eu pensei após terminar de assistir. Eu estava em transe. Estático.

Grande parte da audiência do filme se deu através da proliferação de CDs piratas. Mais de 11 milhões de pessoas assistiram sem necessidade de frequentar uma sala de Cinema, onde posteriormente faturou mais de 20 milhões de reais.

Parte da imprensa classificou o filme como hollywoodiano. Eu sempre dizia um tanto pleonasticamente e sem o lulismo epidêmico que se um filme brasileiro é produção nacional não poderia ser bom. Bobagem!- tantos filmes brasileiros bons por aí...como exemplos de filmes brasileiros de qualidade temos o "Central do Brasil" , o "Cidade de Deus", o "Central do Brasil" , o "Cidade de Deus", temos também aquele filme do Sales chamado "Central do Brasil" e o do Meirelles que se eu não me engano se chama "Cidade de Deus". Ah! Já ia me esquecendo, não poderiam faltar à lista: "Central do Brasil" e "Cidade de Deus". A Folha de São Paulo tem até certa razão , afinal de contas , o filme é tão bom mas tão bom que não parece nacional.
O cinema nacional se sustenta em nomes como Matheus Nachtergaele, Selton Mello ,Dira Paes e outros poucos nomes(que justiça seja feita, são ótimos atores) , entretanto, os filmes são geralmente repletos de erros e incoerências quando não muito raramente tencionam "poetizar" as coisas e dar um "novo sentido à vida". Não que eu seja um expert em Cinema, muito menos em Cinema Nacional...longe disso.Mas acontece que , assim como qualquer um pode saber a diferença entre um hot dog e um Big Mac, qualquer um também pode sentir a diferença entre os filmes citados e qualquer um outro produzido no Brasil. Antigamente eu gostava dos filmes brasileiros que passavam de madrugada na extinta TV Manchete. Essa época coincide precisamente com a fase que eu roubava revistas de lingerie DeMillus que a minha mãe possuía.

O que o filme tem de tão extraordinário? Bom...será que é o fato de o Wagner Moura está tão bem , mas tão bem que parece carioca e não baiano? "Cadê o sotaque que estava aqui? O gato comeu." É o fato de o André Ramiro se transformar comportamentalmente do começo para o fim do filme? São os funks ambientados e o modo de viver exposto pelos figurantes?É o fato de o Milhem Cortaz representar perfeitamente o policial corrupto com pitadas de consciência moral? É o linguajar característico pouco se lixando se o público estará familiarizado com as gírias cariocas ou com o palavreado militar? O sucesso é inexplicavelmente derivado disso tudo e de muito mais. A gente se vê na personagem do comerciante explorado, da prostituta cafetinada, do cidadão extorquido, do usuário agredido , do estudante voluntarioso.
Mark Twain , o grande escritor norte americano dissera certa vez que estava mais preocupado em contar histórias que instruir as massas. E é isso que o graaaaaaaaaande José Padilha faz: conta uma grande história sem ficar fazendo juízo de valor.

Os vigilantes do politicamente correto vão chiar...mas danem-se! Filme brasileiro que não tem retirantes,êxodo rural, violência urbana , drogas , sexo ou tudo isto junto está fadado ao insucesso.
É isto...falei e está falado.

Mais tarde, num próximo post, vou dar uma de cara do "papo cabeça" e relacionar o sucesso do filme aos escritos de um grande filósofo alemão.
Enquanto isso...espero ansiosamente o "Tropa de Elite" número 2 e batizo José Padilha com o título honorário de Grande Mark Twain do cinema brasileiro.
J.T.

terça-feira, 13 de julho de 2010

FRANGO COM HORMÔNIO


O Brasil é um país que produz muito frango e muita "conversa para boi dormir". A produção de aves e de conversa fiada serve tanto para o consumo interno como para exportação. Em 1950, o frango era abatido com dez semanas, pesando cerca de 1,5 kg. Hoje, o abate é realizado com 43 dias e peso médio de 2,3 kg. Aquele pintinho branquinho que só fazia "piu, piu" logo se transforma em um suculento frango carnudo que pode ser saboreado de diversos modos.
Frequentemente aparece um espertinho que setencia: "esses frangos de hoje em dia estão cheios de hormônio...". Hummmmmmmm. isso é uma baita de uma conversa fiada. O que mudou de 1950 para cá? Simples: avanço tecnológico. Os frangos de hoje em dia são rigorosamente vacinados, possuem alimentação balanceada (com soja, milho,minerais etc.), com todos os nutrientes necessários e passam muitas horas do dia totalmente confinados comendo o tempo todinho. Além disso , o controle de doenças nas granjas é muito seguro e eficaz. Experimente você que está lendo, ficar 43 dias dormindo pouco e comendo muito , o tempo todo. Depois desse período , visite a balança para ver a mudança. Não vamos esquecer também que o uso de hormônios elevaria substancialmente o custo da ração (esteróide é muito caro, nenem) e por conseguinte o valor da carne branca no mercado...Ah! E não vamos esquecer que o trato digestório das aves degradaria as substâncias introduzidas na ração , o que minimizaria bastante qualquer efeito no crescimento do animal.
Não existe produção de frango com aplicação de hormônio. Isso é uma lenda urbana (quase rural).
Muita gente vai duvidar quando você desfizer esse mito.
Mas o conhecimento é aristocrático.
A árvore do conhecimento do bem e do mal não era a árvore da vida.
J.T.